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Por onde ando.

É possível que você tenha me procurado por quase 2 meses.

De fato, um misto de censura na plataforma do Facebook, cansaço do momento político e o crescimento de vozes e ataques fascistas que levaram a eleição do candidato de extrema direita e autoritário, Jair Bolsonaro. O Brasil, tampouco o Rio, onde outro fascista foi eleito, deixou de ser um lugar seguro.

Empreendi meios para deixar o país, e manter a minha segurança, da minha família e minha integridade física, mental, emocional, longe das mãos dos que, há 3 anos, me ameaçam diretamente, e que agora tem seu projeto de poder estabelecido.


Eu perdi. E cabe a mim, agora como migrante, encontrar um chão onde possa ser acolhido e amparado. Agora, sob proteção, na Europa, serei um dos muitos que virão em busca de liberdade política, desenvolver seus projetos, ajudar pessoas a construir um mundo mais fraterno e plural. Lamento que nós ainda responsabilizemos europeus pelos nossos males, como se tudo que nos ocorreu fosse responsabilidade deles. Observe que não apago as responsabilidades deles, mas não foram os europeus que votaram em Bolsonaro. Fomos nós. Inclusive, a favela. E porque não falar aos meus, sim, a favela.

Em peso, seguindo a igreja, elegeu Bolsonaro. Muitos de nós estamos sem chão. Odiados em nossa própria vizinhança. Estranhos para aqueles para quem lutamos, todos estes anos de abuso das forças policiais e militares, e das UPPs, contra o genocídio da juventude negra.


Nós estamos sendo vilões de nós mesmos, e tudo se inicia com a aniquilação da biografia de Lula, depois Dilma, e por fim tentará aniquilar o PT, todas as forças de esquerda, e os jovens expoentes das lideranças populares. O filho de Bolsonaro foi aos Estados Unidos declarar apoio público ao Trump, homem forjado pela Klu Klux Klan. David Druke, mentor de Trump, foi o mesmo que disse que Bolsonaro soava como os Klan. O filho de Bolsonaro fez fotos com a bandeira neonazista. Bolsonaro prometeu submeter minorias às maiorias. A imprensa tenta, por interesse comercial, abrandar o discurso de Bolsonaro. Alguém precisa continuar ganhando, e mídia é empresa, querido. Não vem deles a resposta.


Temo por todos os meus amigos nas periferias. Por todos que estão dentro, dentro das favelas, em linhas de frente, diárias, há décadas, e que resistem. Temo por muitos de vocês, leitores. Nós temos o direito de querer recomeçar nossas vidas.

Nós só queremos um pouco de paz, de estabilidade, de emprego, saúde, moradia, uma comida no prato, não sermos discriminados pela origem, gênero, classe ou cor. Não é pedir muito.


Eu só quero, daqui em diante, me manter vivo. Uma vida modesta, simples, onde for.

Mas vivo, e sem medo de acessar um celular, uma rede social, sem acordar na madrugada com medo. Esse ano foi o ano da morte de muitas esperanças.

Mas precisamos seguir. E eu vou seguir. Por mim, pelos meus. Tenho muito a entregar para o mundo. Eu faço parte da solução, não do problema. Mesmo sendo uma pessoa cheia de defeitos, e falhas, eu tento amadurecer a cada dia. Deixei muito pra trás, mas tenho muito o que caminhar.

Encontrei irmãos no além-mar, que me acolheram e me fazem crescer. Num lugar onde, diariamente, reflito sobre o que é um país que encontrou seu rumo, e tem suas lutas. Portugal tem sido uma aula diária de maturidade democrática e avanço de políticas sociais e socialistas. Me estranha ver brasileiros "do Goiás" aqui, que elegeram Bolsonaro, querendo ser europeus, num país de constituição socialista. Deveriam voltar para o Goiás, e lá celebrar o seu presidente. Se odeiam socialistas, não deveriam estar em Portugal. Mas agora eu vou cuidar da minha vida, dos meus projetos de educação, dos novos livros, da adaptação de 'Rio Em Shamas' para a TV e outros projetos que surgem. Quero viver o tempo que me resta produzindo de maneira propositiva e positiva. Com portugueses, imigrantes, refugiados, todos. Eu me sinto profundamente apaixonado pela humanidade, em todas as suas fragilidades. Chega, Brasil. Eu preciso me amar, e amar o mundo. Lutar por quem quer que eu por ele lute. Me tornei escritor, ativista, educador. Tudo que tenho pertence a quem chegar. Deixei para trás meu subúrbio. Tenho adiante o mundo inteiro. Aos que permanecem aqui, meu abraço. Sigo em www.andersonfranca.com.br e no Instagram @andersonfrancarj Anderson Carvalho França de Araújo,

Portugal, 08 de dezembro de 2018.

 
 
 

7 Kommentare


apichoneri
12. Dez. 2018

Desejo grandes realizações a você Anderson França. Te admiro como pessoa, como escritor, como sobrevivente. Não deixe de escrever, por favor! Abraços e boa sorte!

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sandramello
12. Dez. 2018

Também fico muito feliz que estejam pensando em vocês e na segurança de vocês. Torço demais para que Benfica te receba de braços abertos e te dê o conforto que merece. Essas ruas já serviram de abrigo para meu marido e deu tudo certo. Vai dar certo para vocês também. Certeza. Fica em paz, mas não nos abandone, ok?

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nostrono
10. Dez. 2018

Anderson, uma pena que isso tenha chegado onde está. Torço para que encontre paz por aí. Por aqui, tentaremos fazer o possível, nós que tentamos não ser goianos...

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annelise.erismann
10. Dez. 2018

Feliz que você está bem e cuidando de si e da escrita! Ansiosa pra ler suas experiencias como imigrante, como e se você vai encarar xenofobia, e tudo ruim do lado de ca. Tem muitos Goianos pro-Bolsonaro aqui na Suica tambem mas muitas delas e deles foram muito esmagadas pelas rodas do regime migratorio e hoje, com o minimo de estabilidade que tenham por aqui, se sentem validadas na narrativa do mundo cao. Hurt people hurt people. Se vier na Suica em algum momento, publica, eu permaneco voluntaria pra organizar uma roda de conversa por aqui!

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joaopaulo.soaresvieira
09. Dez. 2018

Anderson, tenho profundo respeito pelo seus propósitos e sua decisão. Em lugares diferentes e sob aspirações também distintas eu tive a mesma ideia de abrigo além-mar. Mas por enquanto ainda é um projeto. Desejo que voce se estabeleça e mantenha daí todo o fluxo criativo e reflexivo. Sinto profunda vergonha de meus compatriotas goianos espalhados não só em terras portuguesas, mas também britânicas, italianas e norte-americanas em que propagam discursos de segregação e consevadorismo. Sofrem de varios males e talvez o pior seja a ignorância: não reconhecem no espelho suas faces de migrante?!

Um forte abraço.

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Pelo escritor Anderson França.

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