Aquela noite na Seans Pena.
- Anderson França, Dinho
- 21 de nov. de 2018
- 2 min de leitura
É relativamente lento, e difícil, voltar a escrever, sobre qualquer coisa, nesse novembro de 2018.
Minhas esperanças de Brasil foram totalmente implodidas, não pelos americanos, os imperialistas, ou pelos que julguei que um dia seriam meus inimigos, ou pelo Zeca Baleiro, quem eu tinha convicção que, um dia, destruiria a minha vida. Meu sonho de país foi implodido pelos meus vizinhos.
Meus amigos de infância.
Meus parentes mais próximos.
Minha ex.
Meu pastor.
O cara que me serviu um café hoje de manhã.
O médico que me atendeu a tarde.
O meu país foi implodido pelo meu próprio povo. E não adianta me dizer que isso tudo vai passar. Amigo, acorda. Os caras elegeram um sujeito que nunca foi a um debate.
Apenas isso deflagra a total incapacidade desse cara. Mas um país inteiro mergulhou nesse projeto, seja ele qual for. Eu já gastei horas. Dias. Semanas. Tentando culpar pessoas, partidos, classes. Eu cheguei a conclusão que coube a minha geração conhecer a solidão que a geração de 64 conheceu.
Pode ser que o pessoal de 64 tenha conhecido algumas coisas além da solidão.
Mas olha.
A solidão chegou primeiro. Esse desalento.
Essa sensação que dá ao ouvir "The Silence of Your Heart", do Álbum "Tempo de Chet", a necessária interpretação de Paolo Fresu, Dino Rubino e Marco Bardosia pra esse tema de Chet Baker. Chet Baker.
Esse sujeito que entra, quando todo mundo sai.
Pra mim, o Brasil virou um lendário Mistura Fina, antigo e tradicional pub de jazz carioca, fechado há anos, no fim da session, lá pelas 3 da manhã, uns garçons mal humorados colocando as cadeiras em cima da mesa e limpando chão, catando bituca, pra depois saírem, moídos, numa van pra Rocinha. Esse momento merda. Esse momento fim. Tipo aquela noite na Seans Pena.
Uma noite em que eu marquei com uma super mina daora. Levei meses pra convencê-la a comer um cachorro-quente comigo ali na praça da Tijuca. Eu acho que os cachorro quente dali batem qualquer Food Park, e são anteriores a essa invenção. Gastei cartão telefônico, na época, uma novidade, já que eu usava orelhão de ficha. Gastei uns 5 cartões de sei lá quantas unidades dando papo, até ela, num sábado, topar. Me arrumei, peguei o 638, o ônibus que dava a maior volta na zona norte, e fazia ponto final na Seans Pena. Sentei no banco. 7. 8. 9. 9:20. 9:45. 10. 10:20.
Naquela época quem tinha celular era médico cirurgião, não estudante secundarista do subúrbio. 11 da noite, eu levantei, comprei um último cachorro quente do cara. Comi, bebi Coca.
Olhei a Conde de Bonfim, vazia.
Peguei o último 638, e voltei. Esse momento. É sobre isso minha vida agora.
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