A pergunta: Como você arruma tempo pra escrever?
- Anderson França, Dinho
- 13 de out. de 2018
- 2 min de leitura
Atualizado: 31 de out. de 2018
Me perguntaram isso, agora a pouco, no Instagram. Um rapaz. Eu tenho usado de forma mais intensa o Insta pra conversar com pessoas. Desde que suspendi o uso da minha página pessoal, tenho conversado com as pessoas pelo @andersonfrancarj
Eu sou lido por quase um milhão de pessoas por semana, das quais, certamente 5 mil pessoas procuram conversar, se aproximar. E muitas, escritoras, artistas. E me perguntam como arrumo tempo pra escrever. Eu não arrumo. Eu escrevo textos, como esse, em 10 minutos. Muitos textos lidos por milhares de pessoas eu fiz entre uma louça e outra pra lavar. Entre um e-mail e outro. No ônibus, no trem. Andando. Comendo. Limpando banheiro. Eu estou casado há 5 anos. Não é meu primeiro casamento. Entendo que as tarefas de casa são plurais, constantes e devem ter o mesmo peso pros dois. Mesmo sendo eu, nesse relacionamento, que sente o "peso" que minha existência impõe de escrever. A escrita vem depois do casamento, não antes. Já teve briga. Já quase me deixei levar pela coisa de escrever ou trabalhar em textos, roteiros, esboços de livros, com a casa pra arrumar. Não tem essa, aqui em casa, de aplicar um devir de artista e fodace o mundo. Eu estou há mais de uma semana sem poder estudar e produzir um texto relevante. O último foi para o Jornal do Brasil. E não, texto de Facebook não vale. É o tal dos 10 minutos. Só que escrevo entre banho nos cachorros, fazendo meu café, minha comida, exercícios, cuidando dos meus remédios, minha agenda, a sala, a pia de louças, parando sempre pra ouvir o que minha esposa quer dizer, e são muitas tarefas que ela tem pra compartilhar, é uma vida corrida de dois empreendedores. Não posso simplesmente levantar a mão e dizer: espera que tô inspirado. Teu cu, amor. Aqui é na porradaria. Eu perco muitos textos. Muitos. Até porque não tem mais hora vaga. E quando tem, é pra ficar junto e ver série, investir na relação. E isso não deve ser um problema. Eu quis casar. Eu quero isso. Tem seu preço. Como a democracia. Se eu fosse solteiro escreveria muito mais. O dia inteiro.
Mas minha casa seria, certamente, uma zona, eu teria glicose no talo, ainda seria fumante e nenhum de vocês ia saber de mim. Eu não sei que escritor eu seria se tivesse tempo pra ser. Sorte minha eu não ter esse tesão todo em ser escritor, como muitas pessoas tem. Eu não tenho resposta a essa pergunta. Acho que mulheres sabem responder isso. Elas vivem atarefadas até o pescoço, e no entanto encontram tempo. Que frustrante não poder responder isso. Por outro lado,
veja só: eu tenho alguém pra amar.
Esse texto veio muito a calhar pra mim. As experiências, os compromissos e os anseios não podem ser excludentes. Tenho batalhado muito com isso. Obrigada